quarta-feira, 14 de março de 2012

Fui corrompido pelos meus amores antigos. Dobrei a esquina com as chaves no bolso e a certeza que entraria sem alarde, mas os cachorros estavam soltos e latiram sem parar. Faziam um barulho infernal. Cães, britadeiras, automóveis, aviões e um apito de trem... Não dos que partem com o amor de nossa vida, mas do trem que anuncia o choque iminente com a criança sobre os trilhos. Era assim que me sentia: A qualquer momento um trem levaria a criança de mim, a qualquer momento teria sobre mim os olhos esbugalhados de impotência do maquinista desesperado. As rodas da locomotiva e os cães faziam tanto barulho quanto o meu coração. Era um barulho infernal dentro e fora de mim. Se bem que muitas vezes escutava apenas o coração manco que possuía.
Após me desvencilhar dos cães que amava joguei as chaves na mesa e chorei. Me despi também, embora já estivesse nu há muito tempo. Foi tanta vergonha que senti ao olha-me no espelho que apaguei todas as luzes e me lavei no escuro, fui escurecendo dentro de mim desde aquele dia.

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